Discussão
-(— Discussão
Não deixe o tempo passar
Ele apaga, mas isso não parece resolver
A gente muda e não percebe
Metralhamos com palavras defensivas
Assumindo que a culpa é de outrem
Só tentando não causar desconforto.
O problema é que nunca usamos coletes a prova de palavras
E sempre saímos machucados
—)-
Musa. DCLXVI
Transparência
-(— Transparência
– Conversa comigo. Abra seu coração.
– Converso, mas abro entre sims e nãos.
– Queria fazer as coisas desaparecerem.
– Eu queria que elas simplesmente não fossem.
– E você ainda me impede e nega minha ajuda.
– Não quero encontrar outros Judas.
– E isso a torna independente?
– Ao meu ver, sim, mas não ao seu olhar doente.
– Bom que sabe. Como tiro sua solidão?
– Não pode, o passado e presente me tocam como canção.
– Sei o quanto música afeta seu humor.
– Minha vida e humor, um sádico eufemismo de horror.
– Sem falar nesse drama exagerado.
– Será que dizer “exagerado” não é um pouco errado?
– Talvez se eu soubesse a sua intensidade.
– Talvez se eu tivesse intimidade.
– Você sabe que eu tento.
– Você podia ser mais atento.
– Possível. Eu ainda me pergunto se você aprecia meu tentar.
– Não estou sempre a te lembrar?
– Esquece. Nada a ver.
– Agora o dramático é você.
– De acordo. Só que você tende a desaparecer.
– Não é só com você que sou meio ausente.
– Mas o medo é de que seja permanente.
– Acha mesmo que eu o faria?
– Não, mas tenho medo de que chegue esse dia.
– Não prometo o que não posso cumprir.
– Não era bem isso que eu queria ouvir.
– Não deixa de ser verdade.
– Não gosto de sentir saudade.
– Ia ser bom controlar os sentimentos.
– Ou esquecer um ou outro momento.
– Vamos tomar um café e esquecer essa conversa?
– Por acaso está com pressa?
– Quero sair desses pensamentos.
– Melhor cura é café e alimentos.
– Você até que me conhece um pouco.
– E você ainda acha que sou louco.
– Logico, você continua mesmo já me conhecendo.
– Você que não vê o que estou vendo.
– Isso parece legal. Queria me ver como me vê.
– Um dia você vai entender.
– Obrigada por me dar atenção.
– Só espero que nossa conversa não tenha sido em vão.
—)-
Musa. DCLXVI
Unidade
Something old. Something new.
-(— Unidade
Disfarçado num sorriso brando
Nada parece fora do comum, não hoje
Pelo menos é o que faz-se perceber
E engana-se com o que ouve
De repente, preocupa-se com a não-unidade
Como pôde perder-se em um beijo?
Nem atribuiu valor, mas algo mudou
E mudança faz-se seu indesejo
Entende de solidão ao olhar-se
E pensa sobre a vida, sempre em demasia
Não para, como nunca mais vai,
E continua, como nunca iria
Então desconsidera-se nesse dia
Nada foi e jamais aconteceu
Assim morre em deleite de outros dias
E pensa sobre o que é realmente seu
—)-
Musa. DCLXVI
Remessa
E um dia a gente recupera a senha. Hahaha
-(— Remessa
Eu te vejo, você não me vê
Se me visse, mudaria você
Penso inútil e repenso pra quê
Há de fazer e de desfazer
Eu te troco, você não me troca
Se trocasse, sentiria-se oca
Cicatriz que faz-se bem pouca
E o seco deixado na boca
Eu te entrego, você não me entrega
Se entregasse, fingiria-se cega
Pelo sim e pelo não, se nega
Aquela dúvida que pega e apega
Enquanto toda essência foi extraviada
Ah, mas que saudades…
—)-
Musa. DCLXVI
Textos
-(—- Textos
Textos são incorporações
Relatos e contos
Analogias e sentimentos
Vírgulas e pontosSão o meu eu descrito
Bem longe do que é discreto
Fosse artigo definido
Ciência de experimento secretoE também, há de se dizer
Não conversam, mas se expõem
Monólogos frente ao infinito
Não se limitam ou se opõemPor definição, conjunto de palavras
Palavras seres e assuntos diversos
Permutações sintáticas e semânticas
Compactadas em poucos versosPessoas poderiam ser textos
Serem lidas e entendidas
Talvez fosse agradável
Mas qual seria a graça
De sentir o explicável?—-)-
Musa. DCLXVI
Eu
Apenas eu.
-(—- Eu
Fazia um tempo que eu não sorria
Que não achava graça do quanto sou estúpido
Rir um pouco dos antigos medos
E apenas curtir intrépidoVontade de compartilhar meu sentimento
Abraçar até uma porta em meu caminho
Ser inanimado fora de desenhos animados
Mas ainda posso desabafar carinhoSó me faltou um brinde regado a amor
Eufemismo pra álcool, é óbvio
Pois fui inabalável até que me abalaram
E segui sem respiradas de alívioA existência se mostrou tão opcional
Que nem todo semblante se formou perfeito
Vultos conjugados com imaginação
Estranhas piscadelas, tiques e trejeitosNo momento, eu só quero eternidade
Como se fosse simples um pedido assim
Tanto faz se não é realmente eterno
Mas cada segundo está sendo infinito pra mim—-)-
Musa. DCLXVI
Olhos Mortos
Pink Floyd, cigarro e preocupações.
-(—- Olhos Mortos
A brisa bate indiferente
Fria nesta noite de verão
Olhos mortos olhando o nada
Estou sozinhoA sensação de solidão
Sempre senti algo, mesmo acompanhado
Cortar as asas e voltar a me bastar
Não achei que fosse precisar de novoOuço gritos e vejo sombras
Tem alguém aí pensando em mim?
Aposto em energias ruins
Sinto as cartas do mago, do homem enforcado e da morte
Pregadas em minha face
Debochando de minha sorteAcredito no destino
Como acredito em tornar tudo bom com um sorriso
Não adianta se choro por dentro
Enterrei a esperança com minha felicidade temporária
Estou sozinhoEsta morte dos meus ídolos
Transformação de mim no meu alter ego
Criação de uma mente pouco acostumada a aceitação
Um carinho viria a calhar, até eu me enjoar
E descartar como a agulha do meu calmanteAgora é hora de ir
Ter o meu tempo para mim mesmo
Procurar um abraço que seja meu
Que eu não recuse ou faça por fazer
Eu preciso é saber lidar com o que me faz bem
Sem achar que isso me torna mais fraco
Libertar as correntes que me mostram altivo
E aceitar que não preciso estar sozinho—-)-
Musa. DCLXVI
Navegante
Sempre queremos ter um lugar para onde voltar.
-(—- Navegante
Foram dias em turbilhão
Um triângulo das bermudas
Alguns não restaram para contar histórias
Outros ainda viram suas musasTivemos horas de tensão
Confundiamo-nos ao cumprimentar
Ao escolher a melhor joia
Substituíamos a saudade pelo sonharOs tempos em que vi e víamos
Cada donzela do mar e seus cantos
Meras ilusões causadas pelo rum
Ainda sorríamos para seus encantosAcreditávamos haver um mar para onde voltar
Assim como esporadicamente tínhamos águas calmas
Queria largar essas supostas aventuras
E rir de tudo que torturou nossas almasNós sentíamos o peso do tempo
Em praias e oceanos que visitamos demais
Agora que aportei em meu novo antigo lar
Espero que não chova mais
E espero que não chova nunca mais—-)-
Musa. DCLXVI
Despedida
Quando a lealdade é menor em uma das extremidades, há de haver uma expectativa em ruína.
-(—- Despedida
Como vai, meu amigo?
De novo com aquele papo de não me toque
É embaraçoso seu jeito
Por mais que tente fingir
Conheço bem seus traços
Arrisco-me a dizer que conheço-o direitoPor que não vomita e melhora?
Sei que isso não é bem expulsável
Mas sabe como qualquer dose
Acaba com sua memória
E um cigarro com sua consideração
Grosserias não vão te livrar dessa tosseE se eu te oferecer para pagar a conta?
Comprar tua amizade novamente
Convencer outrem a tentar convencê-lo
Distrair-te em meus devaneios
Mesmo sabendo o que resolveria isto
Você sabe, não hei de fazê-loEntão, você se sente usado?
Bom, não posso mentir que não foi
Você me amou e serviu de abrigo
Não tenho direito de reclamar
Vou apenas deixar-te curtir seu “feliz para sempre”
Com um adeus, meu amigo—-)-
Musa. DCLXVI
Barreira
Não consigo mais escrever coisas infantis e puras. Acho que fui corrompido.
-(—- Barreira
Como são as quedas atenuadas pelo ar
Inevitáveis como a morte
Tive sentimentos que se foram
Em uma brisa a me aliviarComo rumo não quero mais ter
Indeciso sobre o céu e o inferno
Joguei os dados buscando conselhos
Sem nada a perderComo a lua ilumina minha cabeça
Vejo o passado e desejo seu mal
Entreguei minhas esperanças a outrem
Esperando que te esqueçaComo vem a distribuir doença
É meu gelo e minha vacina
Da sobriedade que me mantém mórbido
Seu egoísmo que nunca pensaComo as trevas engolem a luz
Meu coração degenera-se em escuridão
Para que eu possa reconstituir
A barreira que nunca pus—-)-
Musa. DCLXVI