Caderno de Bolso

janeiro 31, 2011 at 2:17 am (Neutra)

Era pra ser poesia, mas o trem saiu dos trilhos. Mostrei pra Naru, ela disse: “parece mais uma crônica, mas com o modernismo, tudo é poesia”.

-(—- Caderno de Bolso

É estranho voltar
Apesar do aconchego demasiado
O silêncio não é o mesmo
Como se algo tivesse mudado

Arrumei minhas malas
Peguei meu caderno de bolso
Chamei um taxi e mandei que me levasse a esmo

Fui parar em um boteco
A garçonete flertava como se eu fosse inocente
Ela queria ganhar um beijo
Belo eufemismo para uma gorjeta

Escrevi num guardanapo
“Meu dinheiro não é como meu amor que acaba”
Simulei ser rico, ela fingiu acreditar
Mal sabia ela que essa frieza era real

Depois de algumas doses de gim
Eu lembrei o porquê de estar tão vazio
Meu caderno estava sem folhas
As folhas que arranco por cada mulher que não amei
Mas ainda lhes escrevi juras de amor

—-)-

Musa. DCLXVI

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Quimera

janeiro 24, 2011 at 1:34 am (Neutra)

A descentralização de minhas poesias parece tão centralizada que eu quase transmuto mil conversas em uma aberração.

-(—- Quimera

Alcoolizando os ouvidos
Moderando as palavras
Modelando os prazeres
Adaptando as travas

A julgar por uma antiga ação
Carinho, dispor, generosidade
Desculpe o que te passei
Faltou-me respeito para com sua qualidade

A leitura de uma mensagem
A esconder, a informar
Saber de ti impressiona
Distorce o meu caminhar

Quimera de diversas cabeças
Odeio o que não sai do coração
A boca devia estar ligada
Com o falso órgão da emoção

Escrevo todo meu egoísmo
Como diria um amigo
Não pense nos outros
Viva o agora e perca-se contigo

—-)-

Musa. DCLXVI

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O Duplo

janeiro 10, 2011 at 1:11 am (Reflexiva)

E agora a vida começa novamente =D

-(—- O Duplo

Fui acordado de um sono profundo
Embreagado de amigos e decepções
Assisti de camarote minha degeneração
Era divertida e desleixada, boêmia por opção

O baque de um inútil bom dia
A ressaca que queria eu ter
Arrependimento de ter feito algo bom
Egoísta e sem sentido, quase prazer

Foi aquela morte que começou a me mudar
E aquele no hospital que me tornou pró-ativo
Quisesse eu ser sincero novamente
Com essa hipocrisia que vejo hiperativa

O quão interessante você pode não ser
É o dom do infortúnio que te impulsiona
Uma mente inquieta e pensativa
Não tem prova ou explicação, é axioma

O sono saudável da negatividade
Alucinógenos para abster-me de mim
Alterar como odeio a existência de espelhos
Seja bom, seja ruim, seja o fim

O que sou eu rimando minha vida?
Mero poeta, simples melodia

—-)-

Musa. DCLXVI

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O último junho

janeiro 8, 2011 at 2:01 pm (Uncategorized)

Poema que escrevi ano passado. Adivinhe em qual mês?

-(—- O último junho

Escalei o prédio mais alto
E desci de elevador
Sem paradas, sem pessoas
Só a máquina e seu calor

Me tranquei na sala mais apertada
Mal mal me cabia
Não pude suportar
Maldita claustrofobia

Andei pela estrada mais longa
Me cansei e, pra minha revolta,
Doeram-me os calos
E não tinha ônibus de volta

Procurei pelos segredos mais escondidos
Revelei o sentido da alma
Descobri a razão da vida
E guardei pra pensar com calma

Compus a música mais simples
Meu Allegro con brio
Sem alegria
Com o desfecho Ode ao sombrio

Escrevi a poesia mais dolorosa
O sacrifício de uma existência
O bem estar de um coração
Por toda minha essência

—-)-

Musa. DCLXVI

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