Caderno de Bolso
Era pra ser poesia, mas o trem saiu dos trilhos. Mostrei pra Naru, ela disse: “parece mais uma crônica, mas com o modernismo, tudo é poesia”.
-(—- Caderno de Bolso
É estranho voltar
Apesar do aconchego demasiado
O silêncio não é o mesmo
Como se algo tivesse mudadoArrumei minhas malas
Peguei meu caderno de bolso
Chamei um taxi e mandei que me levasse a esmoFui parar em um boteco
A garçonete flertava como se eu fosse inocente
Ela queria ganhar um beijo
Belo eufemismo para uma gorjetaEscrevi num guardanapo
“Meu dinheiro não é como meu amor que acaba”
Simulei ser rico, ela fingiu acreditar
Mal sabia ela que essa frieza era realDepois de algumas doses de gim
Eu lembrei o porquê de estar tão vazio
Meu caderno estava sem folhas
As folhas que arranco por cada mulher que não amei
Mas ainda lhes escrevi juras de amor—-)-
Musa. DCLXVI
Quimera
A descentralização de minhas poesias parece tão centralizada que eu quase transmuto mil conversas em uma aberração.
-(—- Quimera
Alcoolizando os ouvidos
Moderando as palavras
Modelando os prazeres
Adaptando as travasA julgar por uma antiga ação
Carinho, dispor, generosidade
Desculpe o que te passei
Faltou-me respeito para com sua qualidadeA leitura de uma mensagem
A esconder, a informar
Saber de ti impressiona
Distorce o meu caminharQuimera de diversas cabeças
Odeio o que não sai do coração
A boca devia estar ligada
Com o falso órgão da emoçãoEscrevo todo meu egoísmo
Como diria um amigo
Não pense nos outros
Viva o agora e perca-se contigo—-)-
Musa. DCLXVI
O Duplo
E agora a vida começa novamente =D
-(—- O Duplo
Fui acordado de um sono profundo
Embreagado de amigos e decepções
Assisti de camarote minha degeneração
Era divertida e desleixada, boêmia por opçãoO baque de um inútil bom dia
A ressaca que queria eu ter
Arrependimento de ter feito algo bom
Egoísta e sem sentido, quase prazerFoi aquela morte que começou a me mudar
E aquele no hospital que me tornou pró-ativo
Quisesse eu ser sincero novamente
Com essa hipocrisia que vejo hiperativaO quão interessante você pode não ser
É o dom do infortúnio que te impulsiona
Uma mente inquieta e pensativa
Não tem prova ou explicação, é axiomaO sono saudável da negatividade
Alucinógenos para abster-me de mim
Alterar como odeio a existência de espelhos
Seja bom, seja ruim, seja o fimO que sou eu rimando minha vida?
Mero poeta, simples melodia—-)-
Musa. DCLXVI
O último junho
Poema que escrevi ano passado. Adivinhe em qual mês?
-(—- O último junho
Escalei o prédio mais alto
E desci de elevador
Sem paradas, sem pessoas
Só a máquina e seu calorMe tranquei na sala mais apertada
Mal mal me cabia
Não pude suportar
Maldita claustrofobiaAndei pela estrada mais longa
Me cansei e, pra minha revolta,
Doeram-me os calos
E não tinha ônibus de voltaProcurei pelos segredos mais escondidos
Revelei o sentido da alma
Descobri a razão da vida
E guardei pra pensar com calmaCompus a música mais simples
Meu Allegro con brio
Sem alegria
Com o desfecho Ode ao sombrioEscrevi a poesia mais dolorosa
O sacrifício de uma existência
O bem estar de um coração
Por toda minha essência—-)-
Musa. DCLXVI